A situação da Pan-Amazônia em relação ao coronavírus é cada dia mais preocupante. O avanço do número de casos, que segundo dados oficiais, coletados diariamente pela Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, já alcançou 20.445 casos em 1º de maio, com 1.322 mortes, se soma ao fato de ser cada vez mais espalhado na região, ameaçando comunidades indígenas e povos tradicionais de maneira preocupante.
A região da Pan-Amazônia, que compreende 43% do território da América do Sul, é compartilhada por nove países e mais de 33 milhões de pessoas vivem nela. Nessa região, o papel da Igreja sempre foi de particular importância, muitas vezes preenchendo as lacunas que deveriam ser cobertas pelo poder público.
Dentro do contexto em que vivemos, respondendo a quais são os principais temores da REPAM em relação à disseminação da pandemia entre os povos da Amazônia e se a Igreja tem um papel a desempenhar nesse contexto, o Cardeal Claudio Hummes, Presidente da REPAM e Relator Geral do Sínodo para a Amazônia, afirmou que “a REPAM está muito preocupada e exige maior atenção da parte dos governos em relação à essa grande região Pan-amazônica, por causa dessa enfermidade do novo Coronavírus que se alastra sempre mais por toda a região”.
Diante desta grave situação, referente à região pan-amazônica, o cardeal afirma “que está muito menos preparada para enfrentar essa pandemia porque sempre foi muito desassistida da parte dos próprios governos, muito abandonada e, até mesmo, constantemente destruída e reprimida na luta por seus direitos, por sua vida”.
O cardeal Hummes ressalta em suas palavras que “o índice de mortalidade nessa região se torna cada vez maior, sobretudo nas grandes cidades, mas também nas cidades de porte médio”. De fato, muitas vozes estão denunciando a subnotificação de casos, infectados e falecidos. Para servir de exemplo, em Manaus, principal foco de contágio e morte em toda a região pan-amazônica, os dados fornecidos pelas autoridades dizem que, até 1º de maio, havia 3.491 infectados e 357 mortes, algo difícil de acreditar, porque os 140 enterros por dia já estão sendo superados, quando o normal na cidade era em torno de 30. Isso nos faz pensar que, somente na cidade de Manaus, o número de mortes por COVID-19 pode estar próximo em 2.000.
O mesmo pode ser dito sobre os cuidados médicos, porque, como denuncia o presidente da REPAM, “o colapso do sistema de saúde em muitas delas já está acontecendo e em outras vai acontecer cada vez mais”. De fato, em Manaus, como acontece em outros lugares, cada vez mais pessoas morrem em casa, sem nenhum atendimento médico. Há muitos testemunhos de pessoas que chegam aos hospitais e são mandadas de volta para casa, independentemente de sua gravidade. Por esse motivo, o cardeal Hummes exige que “diante deste cenário de pandemia, incumbe aos poderes públicos implementar estratégias responsáveis de cuidado para com os setores populacionais mais vulneráveis, e ali estão os nossos povos indígenas e tantos outros”.
O presidente da REPAM também tem palavras para a Igreja, para quem ele diz que “em primeiro lugar, deve indignar-se, como diz o Papa Francisco, e denunciar essas grandes carências e as injustiças que o povo dessa região está sofrendo, sobretudo os mais pobres e vulneráveis, os povos originários, quilombolas e outros”. Ao mesmo tempo, “a Igreja deve procurar estar próxima das populações indígenas no seu dia a dia, para que elas sintam que a Igreja está do lado delas, que a Igreja é uma aliada que consola, encoraja e reza junta deles, fortificando nelas a esperança e a vontade de lutar por mais justiça, solidariedade e recursos para sobreviver”.
Em muitos lugares da Panamazônia, a Igreja está ajudando aqueles que mais sofrem neste momento de pandemia, assumindo o que o cardeal disse. Segundo ele, “oPapa Francisco sempre nos estimula para que a Igreja, e a REPAM, realmente esteja junto do povo, mais próximo no dia a dia, para com eles caminhar como aliada, assim como os próprios povos indígenas pediram no Sínodo Especial para a Amazônia”. Não podemos esquecer que, como recolhem os documentos preparados ao longo do processo sinodal, na Amazônia, um dos grandes desafios é passar de ser uma Igreja de visita para uma Igreja de presença.
Em suas palavras, o presidente da REPAM nos lembra que, durante todo o processo do Sínodo, “os povos pediram que a Igreja fosse uma aliada, uma Igreja que estivesse com eles, uma Igreja que apoiasse o que eles decidem, o que eles pretendem e de que forma eles pretendem construir o seu futuro nesse momento tão difícil da pandemia. Assim, a Igreja e a REPAM devem estar junto a eles no dia a dia, como aliadas dessas populações da nossa grande Pan-amazônia”.